terça-feira, 17 de maio de 2016

Breve armorial dos vice-reis do Brasil

Após dois anos de faculdade de Design, pensei muito e decidi mudar. Vou para História, um ambiente que pra mim, apaixonado por adquirir mais e mais conhecimento, parece ser uma ótima escolha, depois de dois anos às voltas com desenhos que não saem dos meus dedos e análises sob termos que me doem a cabeça.
Tem ainda o diferencial de ser perto de casa. Em tempos de crise, viver sozinho numa cidade grande acaba fazendo muito mal aos bolsos. Outro diferencial é que a heráldica, sendo uma área de conhecimento paralela à história, pode se tornar mais para frente, não apenas um hobby, mas quem sabe até uma profissão. Um curso de pós-graduação em heráldica seria um sonho. Grandes iniciativas nas quais eu me engajaria e faria de tudo para acontecer.

Mas antes das grandes iniciativas, vamos às pequenas. No último fim de semana, produzi um breve (talvez possa ser dito "brevíssimo") compêndio de desenhos das armas dos 15 vice-reis do Brasil. Uma diagramação simples, a impressora de casa e uma encadernação barata foram suficientes para a minha cópia da obra.


Até me perguntaram se eu não ia publicar em papel. Mas não o farei por três motivos.

  1. Há material de domínio público, utilizado nos desenhos. Não acho correto lucrar com o trabalho dos outros.
  2. Heráldica é um gênero editorial "de nicho". E quase todas as fontes que eu usei para esse trabalho estão disponíveis na internet. Provavelmente eu não venderia nem vinte cópias.
  3. É um trabalho definitivamente pequeno. O João Paulo Oliveira, heraldista alagoano, compilou os símbolos nacionais do Brasil desde 1815 até atualmente, e tem o dobro das páginas deste. A minha ideia era fazer realmente algo breve, então não faz sentido publicar fisicamente algo tão pequeno. Deixa para quando tiver bem mais material, e eu produzo um grande armorial luso-brasileiro como monografia de conclusão de curso superior.
 O Breve armorial dos vice-reis do Brasil pode ser lido aqui e baixado, de graça, no Scribd.


quarta-feira, 11 de maio de 2016

Considerações sobre o brasão de Peabiru

Recentemente, um município brasileiro apresentou novas armas. Em Peabiru, município no centro-oeste do estado do Paraná, dois historiadores locais promoveram uma recuperação heráldica nas armas locais. Um dos dois levou o desenho para avaliação em um dos grupos de heráldica que eu frequento no Facebook. A imagem abaixo vinha acompanhada da descrição:
O brasão de Peabiru (Paraná), com a seguinte descrição: Escudo português de azul, cortado de faixa. Em chefe três peças brocantes: na destra, a representação indígena; no centro do chefe, de prata, a Cruz da Companhia de Jesus, na sinistra, o busto de um capitão bandeirante do século XVII, em carnação, voltado para o centro. No campo uma faixa de sinopla, bordada em ouro. Ornatos externos: como timbre, a coroa mural de prata, de cinco torres, cada uma com sua porta. Como suporte, à destra, um ramo de trigo e à sinistra, um ramo de café, ambos frutados em suas cores. Na ponta, a representação de uma Araucária angustofolia. Sob a ponta e sobre os suportes um listel inferior duplo de ouro, o topônimo “Peabiru”, tendo à destra inferiormente as datas “1951 e 1952” e à sinistra “14 de dezembro de 1952”, com letras e algarismos em sinople.

Eu pessoalmente sou um purista, que não acredita em "de sua cor" ou "ao natural". Eu acredito em sete esmaltes. Cinco cores e dois metais. Outro ponto,é que usualmente peças heráldicas são representadas sempre em direção à dextra (direita da imagem). Por fim, e resumindo o meu comentário, a descrição me parece confusa. Para facilitar, primeiro brasona-se o campo para só então partir aos ornamentos externos.

A seguir, replico um dos meus comentários feitos na discussão com um dos responsáveis pelo projeto. Confesso que sofri um pouco para tentar brasonar este escudo, e ainda não fiquei satisfeito.

"A descrição apresentada peca pelo preciosismo desnecessário. Na tentativa de tornar o texto mais "nobre" e detalhado, acabou-se recorrendo a floreios desnecessários na linguagem. A descrição pode e deve ser simplificada ao máximo, para que o brasão seja facilmente desenhado. Pode-se reduzir esta para o seguinte:
 

De azul, uma faixa de ouro e sobre esta uma faixa de verde. No chefe, uma cabeça de índio, o monograma da companhia de Jesus e uma cabeça de bandeirante, tudo de prata, posto em faixa. Na ponta, uma Araucária de prata. Como timbre, uma coroa mural de cinco torres, de prata. Como suportes, um ramo de trigo à dextra e um de café à sinistra. Sob o escudo, listel de prata com as legendas: "1951-1952", "Peabiru" e " 14 de Dezembro de 1952".

Termos como "argenta" não existem na nossa língua, para além da imaginação de um ou outro heraldista metido a Debret. A Heráldica Portuguesa sempre usou linguagem chã para brasões.

A Heráldica não nasceu para ser uma ciência hermética ou esnobe, ao contrário do que muitos pensam e querem fazer pensar. A heráldica surgiu para que as pessoas pudessem se diferenciar, se destacar, se informar, se reconhecer e se guiar nas batalhas do período medieval, de forma simples e clara. Sim, é necessário reconhecer que ela, como passar do tempo, tornou-se uma arte. Porém os estilos artísticos não podem se sobrepor à função vital e motivo de existência de qualquer brasão, que é ser uma representação clara de seu dono, seja ele uma pessoa, uma cidade ou qualquer outra coisa que possa ser representada.
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