sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Regras Heráldicas: A regra das tonalidades


A quinta regra da heráldica (Confira todas clicando aqui) também é extremamente simples, e é uma das mais quebradas pelos iniciantes em heráldica. Ela se refere mais ao desenho heráldico que à heráldica em si, mas é uma das mais importantes. Eu a chamo de regra das tonalidades, apesar de que o nome devia ser o oposto, regra de não-tonalidades,

5. Não há tonalidades diferentes de uma mesma cor.
Eu já expliquei, na publicação Paletas de Cores, de três anos atrás, que não há códigos de cor obrigatórios para representar heráldica. Cada desenhista usa a paleta que lhe agrada mais.
Minhas paletas de cores heráldicas, que uso primariamente para os desenhos exibidos neste blog.
Há ainda a liberdade de se usar claros e escuros como se preferir em heráldica, afinal ela é uma arte. Eu também já mostrei algumas forma de fazer isso bem recentemente, no post Questão de estilo. E aqui é que entra a regra. Claros e escuros em um mesmo tom, estejam à vontade. Mas não vale misturar dois tons de uma mesma cor. Vale lembrar que no começo eram apenas sete cores, e que algumas cores eram mais caras que outras. Um exemplo, um quê de absurdo, segue-se.

Pensem nas seguintes armas: De azul, seis lisonjas de ouro, acompanhadas em chefe de uma estrela do mesmo.
Atenção na bagunça visual!
A imagem acaba se tornando meio autoexplicativa quando se recorda os fatos explicados. Com mais ou menos acuidade visual, todos os tons nas lisonjas da primeira imagem podem ser podem ser usados para representar a cor "Ouro". Porém, usar mais de um tom de uma vez acaba tornando tudo uma grande bagunça! Então lembre. Na hora de desenhar, escolha apenas uma cartela de cores!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Regras Heráldicas: A Regra das figuras múltiplas


A quarta regra é a mais fácil de explicar. Ela se refere a figuras múltiplas.

Se você não leu as três anteriores, confira aqui a primeira, a segunda e a terceira.
4. Muitas peças móveis, ou figuras, pousadas sobre o mesmo campo tem sempre o mesmo esmalte, desde que sejam elas repetidas sem alterações.
 Quando você tem várias vezes uma mesma figura no campo, desenhá-la com cores diferentes dificulta na identificação. Imaginemos um diálogo entre dois soldados:

-Quais são as armas do cavaleiro Sir James? - pergunta o primeiro.

-De ouro, com sete leões, O primeiro de azul, o segundo de verde, o terceiro de vermelho, o quarto de prata, o quinto de preto, o sexto de sua cor e o sétimo de arminhos. - responde o segundo.

Sentiram o drama? É uma dificuldade a mais que se coloca para um brasonamento ser satisfatório! Se as armas de Sir James fossem de ouro com sete leões de azul não seria muito mais fácil?

As armas dos Brito. De vermelho, nove lisonjas de prata apontadas e firmadas, cada uma carregada de um leão rampante de púrpura. Imagina se cada leão fosse de uma cor.
Amanhã, a quinta e penúltima das regras. Esta série encerra-se na noite de natal!

domingo, 27 de novembro de 2016

Regras Heráldicas: A regra das figuras


A série das regras heráldicas continua, e hoje temos a terceira regra. Você pode seguir para as duas publicações anteriores nos links a seguir:
  1. A regra dos esmaltes
  2. A regra das peças
Prosseguindo. A terceira regra da heráldica trata das figuras. A diferença das peças para as figuras é que as primeiras possuem tamanho definido e originalmente representam "honras". Figuras são mais elaboradas, com desenhos vivos e detalhados. Objetos, corpos celestiais, animais e figuras quiméricas são as figuras mais comuns.
3. As figuras naturais ou quiméricas, quando sozinhas, devem ocupar o centro do campo sem tocar em seus bordos.
Esta regra tem a ver com o posicionamento das figuras. Para ser vista, a melhor forma de se exibir uma figura é no centro do campo e ocupando o máximo possível de espaço, mas sem tocar os bordos. Para exemplificar, vamos ver a posição das figuras em seus respectivos campos.

Tanto o Leão quanto os castelos estão centralizados e ocupam o máximo possível de seus campos, sem invadir o campo das outras figuras.
Quando o formato do escudo e as figuras não se complementam, os espaços ficam vagos. Mas ainda assim, a figura está centralizada. Se ela aumentasse, tocaria os bordos do campo.



sábado, 26 de novembro de 2016

Regras Heráldicas: A regra das peças


A primeira regra da heráldica, também conhecida como regra áurea ou regra dos esmaltes, já foi explicada, e clicando neste parágrafo, você pode visitar a publicação.

Agora, continuando com a série, falaremos das peças. A segunda das regras fundamentais da heráldica diz que:

2. As peças honrosas devem ser colocadas nos lugares que lhes competem.

Sobre isso, vamos recordar o conceito de peças honrosas. As peças honrosas são figuras simples desenhadas sobre o escudo, que representam figurativamente o cavaleiro em batalha. Partindo do princípio da divisão do escudo em nove partes, podemos reconhecer algumas peças. que representam tradicionalmente a terça parte do escudo, segundo Armengol e Poliano.

Na primeira fila: A pala, a faixa, a contrabanda e sua irmã mais nobre, a banda.
Na segunda fila: a cruz e o sautor,

A regra diz que as peças devem ser colocadas nos lugares que lhes competem, ou seja, sempre ocupando a terça parte do escudo. Porém eventualmente a terça parte do escudo pode ser espaço demais, dependendo do desenho. Num escudo ibérico, de base redonda, a parte inferior perde muito de seu tamanho. Notem na banda e na contrabanda o pouquíssimo espaço neste setor. Para solucionar este problema da falta de espaço, acostumou-se, sem prejuízo ao brasonamento, estreitar estas peças, para ocuparem excepcionalmente menos que a terça parte, quando as peças vierem acompanhadas por figuras que precisem de espaço.
CAMPINA GRANDE: Asna estreitada para acomodar as espadas
MONTMORENCY: Cruz estreitada para acomodar os aleriões

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Regras Heráldicas: A regra dos esmaltes


Estava relendo posts antigos deste blog. Este ano é de longe o mais ativo. Eu falei sobre adoção de armas pessoais, falei sobre uma sociedade heráldica que de heráldica não tem nada, falei de outra sociedade de heráldica, que até tem heráldica, mas que infelizmente não funciona, falei dos brasões dos Vice-Reis do Brasil, expliquei que brasonar e embrasonar não é a mesma coisa, falei até mesmo da Branca de Neve. Mas tem uma coisa que eu nunca postei aqui, e acabo de me dar conta. As Regras Fundamentais da Heráldica. Nos próximos dias, vou explicar uma a uma as seis regras da heráldica, justificando-as e dando exemplos.


1. Não se deve sobrepor metal sobre metal, cor sobre cor ou forro sobre forro.
 A primeira e mais famosa das regras, nos lembra da separação básica entre os esmaltes. As tonalidades usadas na heráldica dividem-se em metais (ouro e prata), cores (azul, vermelho, preto, púrpura e verde) e forros (arminhos e veiros).

As cartelas tonais que eu uso para desenhar heráldica digital.
Estas tonalidades foram divididas assim para facilitar na hora de combinar cores, garantindo que durante uma batalha, adversários e inimigos seriam facilmente reconhecidos, pelo contraste.

Batalha de Navas de Tolosa, Julho de 1212. Mais de trinta mil soldados. Imaginem se não tivesse como reconhecer esse povo todo.

Neste caso, evitava-se colocar uma figura ou peça de um metal sobre um campo também de metal, para não ficar difícil de ver, com o sol refletindo nos escudos e a distância entre os combatentes. Exemplificando. Olhe para a imagem abaixo. De cima, de baixo, de lado, afaste-se da tela, veja de longe, de perto, com um foco de luz, de todas as formas que puder... Tente ver como um soldado medieval veria, e note a importância do contraste.
Se contrasta, combina. Se não contrasta, não combina.
Esse princípio segue em uso ainda hoje, quando se precisa facilitar a visualização de coisas, como por exemplo nas placas dos carros:

Atenção: a regra diz não sobrepor. O que quer dizer que está tudo bem, por exemplo, partir um escudo de prata e ouro, para representar duas armas diferentes:
Estas armas, Partido de "Castro" e "Meneses", não violam a primeira regra da heráldica, pois não há sobreposição, mas divisão.
Nas próximas publicações, as outras regras serão devidamente explicadas. Não vão para muito longe!

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Mais Registros Heráldicos


Atendendo a pedidos, decidi voltar com a série de publicações sobre como adotar armas pessoais. Para quem não leu desde o começo seguem os links:

1. Conceitos Básicos
2. Registros Heráldicos

Para hoje, vou falar de mais duas possibilidades de registro de suas armas pessoais. Caso você não possa traçar linhagem a uma família armigerada nem tiver, por quaisquer motivos, possibilidade de oficializar suas armas com algum órgão oficial, registrar suas armas é importante para garantir que nenhum outro heraldista vai adotar ou vender um desenho que representa você. É uma forma de garantir a sua propriedade intelectual de forma extra-oficial e reconhecida por outros membros da comunidade heráldica pelo mundo.

As armas do Henderson Roll of Arms. Notem o escudo das minhas, na segunda fileira, pouco depois do centro da imagem.
Primeiro, o Henderson Roll. Oficialmente o "Society of Commoners Heraldic Roll of Arms", parece ter ganho esse apelido pelo sobrenome do seu idealizador, Mark Anthony Henderson. Ele é um compilado das armas pessoais dos membros da Society of Commoners Heraldry, um grupo no Facebook onde as pessoas discutem especialmente heráldica para gente que não faz parte da nobreza.


Outro registro que conheci recentemente foi o AssumeArms.com. É um registro de números modestos, e pessoalmente acho que o nível de organização visual é inferior aos outros, mas pronto, esta é a minha veia de designer falando. O sr. Richards, idealizador do registro, foi extremamente solícito e tratou das minhas dúvidas de forma correta. O registro é simples e claro. Por 30 dólares, o solicitante pode ainda receber um certificado.

Ps. Ainda estou aceitando perguntas, pedidos e sugestões de pauta para este blog. Podem deixar nos comentários!

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Donald Trump

É o assunto mais comentado da mídia mundial. Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, pelo colégio eleitoral daquele país. Eleito pelo partido republicano, venceu a candidata Hillary Clinton, do partido democrata.
Armas dos Estados Unidos da América. De prata, seis verguetas de vermelho; chefe de azul, pleno.
Donald John Trump deve seu sobrenome a uma alteração idiomática. Ele é neto de Friedrich Drumpf, nascido na Alemanha, e que adotou o nome de Frederick Trump quando emigrou para os Estados Unidos, atraído pela febre do ouro no Oeste. Não há até onde eu descobri, armas para esta linhagem. Sua ascendência materna, de origem escocesa, pode ser traçada. Donald filho de Mary Ann McLeod, nascida na Escócia, no clã McLeod.
Armas do Clã McLeod. De azul, um castelo de prata, aberto e iluminado de vermelho.
Mas a relação do mais polêmico presidente americano em talvez dois séculos não acaba aqui. Trump é um homem rico, e como alguns ricos, dado a certas excentricidades. Há alguns anos, o magnata comprou terras na Escócia, para construir um hotel destinado a jogadores de golfe. E para promoção e decoração do hotel, usou o seguinte logo, muito parecido com um brasão, mas não-cumpridor das regras heráldicas.

Brasonar isso é meio incômodo. Embrasonar é ainda mais, mas eu fiz o possível. A composição é de péssimo gosto e descumpre a primeira regra da heráldica. Um horror.

De prata, semeado de cifrões de ouro. Brocante, duas asnas encurtadas entre três leões sentados rampantes, tudo de ouro.
Eu não gostei, os heraldistas locais não gostaram, e quem também não gostou nadinha foi a Corte do Lord Lyon, autoridade heráldica oficial em terras escocesas. O imbróglio jurídico iniciou em 2008, e quatro anos depois o Trump International Golf Links ganhou novas armas.

Este brasão está menos pior. Analisando sem ter acesso ao documento legal da Corte de Lord Lyon, me parece que inúmeros "jeitinhos" heráldicos foram dados aqui. A qualidade da imagem também não ajuda, mas se eu tivesse de brasonar (e embrasonar) estas armas, seriam o seguinte:

Armas do Trump International Golf Links. De prata. três asnas de ouro, fimbriadas de negro, acompanhadas em chefe de duas estrelas de negro vazias do campo, e em ponta de uma águia bicéfala de negro, carregando dois bezantes de prata nas garras. Brocante, debrum de negro.

Ainda não são umas armas muito bonitas. Quase empatam com as do marido de sua adversária eleitoral, o ex-presidente William Jefferson "Bill" Clinton, concedidas em 1995, pelo Heraldo-Chefe da Irlanda, por ocasião de visita de Clinton ao país.


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Pausa prolongada, volta com sugestões!

É um pouco chato iniciar uma série de publicações e ter de interrompê-la.

Dessa vez, uma soma de fatores interrompeu as publicações aqui no Blog de Armoria. Dia 02/11 foi feriado, Dia de Finados. Depois, desde ontem e até domingo (06/11), ando às voltas com o ENEM, que volto a fazer após três anos, para ir em busca da minha segunda graduação, agora em História (para quiçá ser um acadêmico no ramo da heráldica).

As publicações recomeçam na segunda-feira, com mais conteúdos interessantes que eu encontrei na última semana. Ainda assim, gostaria de sugestões de conteúdos para os próximos dias.


Deixem nos comentários dúvidas sobre heráldica, sugestões de publicação e pedidos de informação, e a seu tempo, irei responder a todos. Se eu não souber de algo, vou descobrir, seja em livros, fóruns de discussão, com outros heraldistas mais sábios que eu... Mas garanto a resposta!

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Bibliografia on-line para o heraldista brasileiro


Eu tenho uma biblioteca recheada, que venho juntando desde que comecei o blog. Tudo quanto é livro heráldico que eu encontro pela internet e está diponível, eu arranjo, de álbuns armoriais da Alemanha Nazi até uma edição "pirata" do Armorial Lusitano. Isso é claro, quando se fala em eBooks.

Já a minha coleção de livros físicos é bem mais humilde, composta de livros usados, vindos de sebos, comprados a preços bem baixos mesmo, o que se nota pelo estado deles. Mas considero todos eles muito bons. Em especial, sou apaixonado pelo "Heráldica" de Alejandro de Armengol y de Pereira, que é de 1933 e ainda está em bom estado. O outro "Heráldica", do Luís Marques Poliano, está bem mais desgastado, mas ainda assim é meu maior companheiro para as dúvidas.

Eu sou o Rony Weasley dos livros de heráldica.

Enfim, gabolices à parte, o assunto de hoje é esse mesmo. Fiz um compilado com os melhores livros e artigos para os iniciantes na matéria, disponíveis gratuitamente na internet. Decidi focar em material de língua portuguesa, mas há links em espanhol também, os quais com um pouquinho de paciência dá pra se ler de forma tranquila.

  1. Armaria Portuguesa, de Brancaamp Freire. Chega de procurar brasões em sites de lojinhas suspeitas. Praticamente todos os brasões de linhagens portuguesas estão aí. Uma edição antiga, datada de 1908 (e portanto, em domínio público por todo o planeta), está disponível para download.
  2. Tratado de Armaria, de Joaquim Augusto Correia Leite Ribeiro. Na minha opinião é definitivamente a melhor das cartilhas sobre heráldica que existe. Vale fazer o download e ler inteiro.
  3. Tratado de Heráldica y Blasón, de Francisco Piferrer. Para mim, está entre os melhores livros já produzidos sobre a matéria, resumido mas completo. E ainda é um excelente repositório de figuras, com bastantes imagens, em especial de ordens. Em espanhol.
  4. Archivo Nobiliarchico Brasileiro, dos Barões Vasconcelos e Smith de Vasconcelos. Sem dúvida, a mais famosa obra sobre a nobiliarquia brasileira, traz uma boa quantidade de brasões dos nobres do império. É uma excelente fonte de pesquisa para interessados em nobiliarquia e genealogia.
  5. Archivo Heráldico-Genealógico, do Visconde de Sanches de Baena. Obra essencial para genealogistas e heraldistas pesquisando sobre o segundo reinado.
  6. Introdução à Heráldica Portuguesa, do Marquês de Abrantes. Essa é uma obra bem recente, com apenas 24 anos de publicação, e bem difundida. Não sei se está em domínio público, mas está na primeira página do Google, então bastante gente a possui.
  7. Taller de Heráldica, de Jose Antonio Vivar del Riego, é a fonte de informação mais concisa sobre desenhar escudos, na minha opinião. É em espanhol.
Espero que aproveitem.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Curso de Heráldica no Brasil

Recebi esse link por e-mail, vindo de um amigo designer.


É um curso que será oferecido num hotel de Campinas, neste dia 12 de novembro. Fiquei animado de início, mas logo percebi que estava financeiramente e geograficamente impossibilitado de participar. De toda forma, entrei em contato com a idealizadora, a Designer Cecília Consolo, pra saber um pouco mais sobre este curso e sobre a relação dela com a Heráldica. Infelizmente, não fui respondido até o momento dessa publicação. Se ela me responder ainda antes da realização deste curso, teremos um novo post.

Nota: Não recebi dinheiro para fazer propaganda deste curso. Se eu tivesse dinheiro, já estaria a caminho de Campinas.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Como eu vejo a heráldica brasileira


Esses dias, o Leonardo Piccioni, do Registro Heráldico Brasileiro, me pediu para falar um pouco sobre como eu via a heráldica brasileira, para um trabalho de faculdade. Não sei que faculdade é essa onde você pode fazer trabalhos sobre heráldica, mas já quero fazê-la. Escrevi algumas coisas que estavam na minha mente. O texto é bem informal, então perdoem lá algum vício gramatical.

Eu acho que a heráldica de domínio do Brasil está num caminho sem volta para o buraco. Os princípios básicos de heráldica são desconhecidos até por muitos admiradores da matéria. Entre as bobagens que eu já li na internet, uma das que mais chama atenção é que o listel é a certidão de nascimento da localidade. Isso meio que expõe toda a fragilidade do sistema de símbolos que se criou aqui desde que as cidades passaram a adotar brasões para lhes representar. Criou-se toda uma nova definição de heráldica no século XX, que permite que qualquer coisa, como por exemplo, um balão, seja considerado um brasão de armas. 

E essa nova definição de heráldica acabou se espalhando para tudo quanto é lado. Heráldica de Domínio, Corporativa, Eclesiástica. Está tudo contaminado, por assim dizer. A vexilologia seguiu esse caminho, ou melhor, foi puxada para ele. Os emblemas que as pessoas consideram heráldica acabam estragando o potencial visual de bandeiras que por vezes seriam excelentes sem os tais símbolos. 

Porém, não se pode dizer que é culpa só da falta de conhecimento. A heráldica no Brasil nunca foi forte como em Portugal ou Espanha. As armas imperiais brasileiras podem ser consideradas a inquirir, com sua orla azul sobre campo verde. Mesmo na época do Império havia seus problemas. Até em Portugal havia confusões relacionadas a armoriais. 
A heráldica brasileira tem, apesar disso, um extremo potencial quando se trata de armas assumidas. Eu sou extremamente esperançoso nisso, e fico muito feliz quando um jovem, entre os 15 e os 30 anos, pede entrada no grupo de Heráldica que eu criei. Diferente dos mais velhos, que acabam seguindo à risca a mentira dos Brasões de Sobrenome, prática incitada por uma maioria de heraldistas inescrupulosos para ganhar alguns trocados, os jovens são mais interessados em ir a fundo nas pesquisas, comprovar e fazer valer seus direitos. Gente como eu, como você (Leonardo), como o Danilo Martins. Esse pessoal novo que tem potencial e com acesso a bons conteúdos, pode ir bem mais adiante. 
Eu considero importante que se conheça e se mantenha todo o conhecimento que temos disponibilizado até agora. Eu conversei com o Renato Moreira Gomes, um senhor de mais de oitenta anos que tem em seu poder praticamente toda a heráldica do Brasil. Eu tenho medo de que acervos como o dele sejam perdidos para o futuro, de que todo esse conhecimento acabe abandonado numa biblioteca qualquer, trancado a sete chaves como está trancada a coleção de trabalhos do Gustavo Barroso. Eu quero ser parte desta manutenção e desta reabilitação. 
Eu sonho com o dia que verei um curso de pós-graduação em Heráldica no Brasil, assim como há na Espanha. Acho que o Brasil só vai ter uma heráldica ao menos digna de nota quando houver um consenso entre os estudiosos, quando as intrigas pessoais pararem de ser mais importantes que o conhecimento, e isso vale desde o Eduardo de Castro me permitindo acesso ao grupo dele até a Vera Lúcia Bottrel Tostes disponibilizando os arquivos do Gustavo Barroso para consulta pública.
Não sei se vai acontecer, mas espero que aconteça. Até lá teremos que viver com a tal da nova definição de heráldica.

Publishing in English


Since I'm a brazilian, the main language of this blog is brazilian portuguese.

But recently I thought about an english version of this blog. This idea was dropped because the number of posts to be translated is big. Counting this one, there are 87 posts. It would take a lot of work to translate, re-upload content and correct broken links.

Then I brought back the translation gadget. If you're reading this post, I invite you to click the translation gadget, choose your language, then take a look around the blog. I'd like to know if you can properly understand the text, even with the glitches caused by Google Translator.

Can I count on your opinion?

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Adoção de Novas Armas


É sempre bom ver amigos adotando armas. Na noite da última segunda, enquanto trabalhava no artigo sobre o blog do David Appleton, recebi uma mensagem do Henrique Lemos, amigo de longa data, perguntando se eu não podia dar uma ajuda pra ele com as suas armas pessoais, que ele decidiu adotar recentemente.

De verde, três espadas em faixa, acompanhadas de uma orla, tudo de prata. Como timbre, um tridente de ouro. Como Lema, Nichts zu Fürchten.


Começamos então a busca por um brasonamento legal. Primeiro tentamos o estilo Bucket Shop, já que foi o único lugar onde eu achei um grifo marinho. Mas felizmente ele desistiu do grifo marinho.

Depois de alguma conversa, encontramos a solução, que estava nos meus próprios arquivos.

No começo eu não gostava muito destas armas, mas o novo timbre e o lema deram uma cara ótima ao brasão. Parabéns pelas armas novas, Henrique. Que elas possam sempre te acompanhar e testemunhar grandes feitos!

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Heráldica de Clip-arts


Seguindo com o assunto Heráldica Digital, que eu comecei na segunda-feira (Clique aqui para ir ao post anterior) falando sobre quem usa softwares para verdadeiramente desenhar heráldica. Mas a grande maioria das pessoas não foi treinada para desenhar, e sim para uma miríade de outras funções, físicas ou mentais. Para estes, resta, com mais ou menos esforço, usar material pré-fabricado, os chamados clip-arts.

Muita gente não gosta. Há quem considere uma ofensa. Há quem nem sequer fale no assunto. Mas eu decidi falar.
  1. Clip-art não é arte heráldica. Na faculdade de Design, a gente discutiu o conceito de arte. Entre as milhares de possíveis definições para arte, eu fiquei com a seguinte na minha cabeça: Arte é qualquer criação humana, original em seu conceito, para fins de fruição. A heráldica de Clip-arts até pode ser criada para fins de fruição, mas o fato de reaproveitar materiais acaba criando algo que não é original, tornando o processo algo artificial, repetitivo, mecânico.
  2. Clip-art é útil. Sim, pode não ser arte e muitas vezes não ser agradável aos olhos. Mas a Heráldica de clipart funciona para o fim a que se propõe. Suponhamos que você é um advogado que precisa enviar um brasão para que um artista heráldico o desenhe. Se você não for bom em brasonar, basta enviar um desenho, mesmo que feito com peças pré-fabricadas. O artista compreenderá perfeitamente o que você procura, e a informação terá sido dada com sucesso.
  3. Saber usar clip-art não faz de você um heraldista. Ser um heraldista envolve muito estudo, esforço, paciência e diria até mesmo um pouco de habilidade artística.

Dito isso, o básico da heráldica de clip-art pode ser feito usando um software simples, o Paint. Com os clip-arts certos e um pouco de paciência você pode chegar a um resultado como esse:

De prata, uma faixa de azul carregada de um navio de sua cor, entre três estrelas de seis pontas, de vermelho, duas em chefe e uma na ponta.
Há ainda a possibilidade de elaborar mais o trabalho usando material e softwares vetoriais e de edição de imagens, mas decidi não me delongar no assunto desenho desta vez, porque não é este o foco. Na página de links, na seção referências, há algumas páginas com Cliparts. Vocês podem usar à vontade, mas não se esqueça de atribuir créditos aos criadores.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Appleton



Yesterday, while updating my heraldry bookmarks, I've noticed this blog is now in the "Blogs of Interest" section of David Appleton's Heraldry Blog, one of my favourite blogs in the internet.

To express my happiness and gratitude for this, I tried a personal version of the arms of Appleton.

The apple tree is from Wikimedia Commons.

Ontem, enquanto eu atualizava meus sites favoritos de heráldica, notei que este blog foi adicionado à lista de blogs interessantes do Blog de Heráldica do David Appleton, um dos meus favoritos de todos os blogs sobre heráldica na internet.

Para expressar minha felicidade e gratidão por isso, eu tentei uma versão pessoal das armas do Appleton. 

A macieira é do Wikimedia Commons.


 Argent two chevronels Azure between three apples Gules slipped and leaved Proper.

Crest: On a wreath Argent and Azure, an apple tree fructed Proper.


segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Questão de estilo


Estou recomeçando devagar. Há muito o que ser feito no blog ainda. Hoje, algumas palavras sobre desenhos heráldicos, e não sobre a heráldica em si.
Atualmente, heráldica gerada e desenhada com softwares de computador tornou-se bastante popular. Há ainda quem não considere ela uma grande forma de arte, por valer de material pré-fabricado em boa parte dos casos. Desta vez não falarei deles, mas em breve terei algumas palavras sobre essas pessoas também.

Hoje vou falar de um outro grupo. Há, entre todos os criadores de arte heráldica digital, um grupo que é responsável por desenhar do zero todas as suas obras. Eu até gostaria de me considerar parte desse grupo, mas minhas criações acabam limitadas pelo fato de eu não saber desenhar figuras complexas, como animais ou objetos mais elaborados como chapéus com borlas, mantos ou torreões ardentes. Sou capaz de, com certa propriedade e em alguns minutos, desenhar umas armas básicas, suficientes para se representar um brasão. Por exemplo:

De prata, três faixas de vermelho, cantão de azul carregado de cinco lisonjas de ouro postas em cruz, a do centro carregada de um coração de púrpura.

Há entre esse grupo de heraldistas, três estilos predominantes.
O primeiro, o qual eu expus acima, apresenta a arte limpa, sem brilho, detalhes ou sombras. É heráldica na prática. Para mim, seu expoente máximo é o Xavier Garcia, do Taller de Heráldica e Vexilologia da Wikipedia em Espanhol, e do blog Dibujo Heráldico. É meu blog de heráldica preferido. Visito-o praticamente todos os dias.


O segundo estilo é bem conhecido, eu o chamo de Wikipediano, porque seu estilo de representação vem de alguns designers/heraldistas que produzem conteúdo para a Wikipédia. Os mais famosos são Sodacan (Sem nome conhecido), Heralder(Sem nome conhecido), Tom-L (Tom Lemmens) e SanglierT (Mathieu Chaine). Consiste primariamente em adicionar sombreado, volume e movimento às figuras através de contornos e alterações nos tons, deixando-os mais claros ou escuros. Fica a minha tentativa, meio sem sucesso, de imitar o estilo.

O terceiro estilo, que eu chamo de metalizado, é bem comum entre os brasões brasileiros, por ser usado em muito brasões do Atelier Heráldico do Raul Marquardt, e também pelo heraldista paraibano Eduardo Castro (Que é um purista, monarquista ferrenho, me bloqueou no facebook, mas ainda assim aqui está o link para o blog dele.) O efeito metalizado é conseguido através da sobreposição de uma textura metalizada por cima do escudo, que é ajustada para a melhor aparência. Essa textura é um mistério a parte. Eu procurei bastante para escrever este artigo e não achei de jeito nenhum. O estilo também usa um leve sombreado para dar a sensação de volume. Tentei imitar com outra textura de metal, mas não ficou bem igual.

Não podemos esquecer que a Heráldica é uma arte, e assim sendo, pode ser interpretada de infinitas maneiras, Então há muitos estilos de desenho que eu não falei. A arte heráldica digital está ganhando espaço, e embora não seja ainda uma febre entre os heraldistas mais tradicionais, agrada bastante aos mais jovens, pela praticidade. Você não pode colocar um mural de um metro de altura num cartão de cinco centímetros.

No fim, cabe a cada um de vocês escolher o estilo que agrada mais, e aproveitar a evolução da arte através da história.


sábado, 27 de agosto de 2016

Mudanças no blog

Se você visitar o blog nos próximos dias, provavelmente ele estará mudando algo, faltando algo. Estou estudando uma melhora no visual dele. Alguns posts estão rascunhados e pretendo terminá-los em breve. Outros posts já publicados estão com imagens quebradas que pretendo publicar novamente ou redesenhar. Espero que ainda em setembro eu já tenha tudo novo no blog.


terça-feira, 26 de julho de 2016

Variações das armas nacionais do Brasil entre 1836 e 1868

Como eu já disse várias vezes neste blog, a heráldica, à parte de ser uma ciência, é uma arte, e assim, as representações de armoriais podem e devem se adequar aos estilos artísticos da época quando e do local onde são criados.

Assim sendo, salvo quando seja preciso unidade e repetição, como num livro de armas ou no cabeçalho de um documento por exemplo, não se pode qualificar como absoluto um desenho de brasão. As próprias representações heráldicas variadas são prova fidedigna disto.

Esta semana, quando folheava digitalmente o meu volume de “A história dos símbolos nacionais”, de Milton Luz, encontrei os seguintes parágrafos sobre as armas nacionais do Império do Brasil:

No entanto, a aparência formal deste símbolo não foi convenientemente preservada, talvez em razão da prevalência do alegórico sobre o heráldico. Assim, as mais variadas e fantasiosas versões deste brasão se multiplicavam nas fachadas dos edifícios públicos e nas publicações oficiais. 

Com tantos problemas urgentes e prioritários, nosso primeiro Imperador não podia cuidar dos detalhes de realização e aplicação dos símbolos que criara. Provavelmente Boulanger, seu rei d’armas, negligenciara sobre esta matéria.

Esta falha persistiu no Segundo Império e mesmo D. Pedro II, tão cioso do trato das artes e das ciências, também negligenciou sobre este detalhe, de crucial importância. Assim, o brasão de armas do império ficou sujeito aos caprichos e fantasias dos artistas. Gravadores franceses, ingleses e alemães, ao receberem a encomenda de um remoto Império perdido nos trópicos e, à falta de um rígido programa que lhes disciplinasse o trabalho, davam asas à sua imaginação. Vai daí as muitas versões usadas (entre 1836 e 1868) nos cabeçalhos do Correio Oficial, do Diário Oficial do Império e no Diário Oficial – versões tão diversas e, contudo, todas elas, “oficiais”.


O autor parece ignorar a variedade artística da época, querendo comparar os mecanismos que temos hoje com a meticulosa gravação manual dos séculos passados. Se os gravadores eram franceses, alemães e ingleses, muito bem. O fariam com base no brasão, assim como antes teriam feito outras centenas. A heráldica surgiu para identificar as pessoas (entre elas os monarcas, e por extensão, seus reinos). E levando em consideração o momento artístico e as tradições heráldicas locais, surgiram desenhos como os apresentados acima. Todos eles bastante agradáveis e bastante válidos. Eu gosto em especial dos desenhos na linha inferior. Um deles leva uma coroa imperial diferente, à moda da que vemos ainda hoje timbrando uma das Colunas de Hércules, que suportam as armas do Reino da Espanha.

O brasão do império, ao contrário do que Milton Luz defende, não ficou sujeito a caprichos de artista, e sim adaptado a estilos artísticos. Um programa rígido não é necessário, pelo contrário, quanto mais simples o brasão, melhor e mais identificável ele será. Quatro das versões seguem o que manda os decretos de 18 de setembro e 1 de dezembro de 1822.


Será, d’ora em diante, o escudo d’armas deste Reino do Brasil em campo verde uma esfera armilar de ouro atravessada por uma cruz da Ordem de Cristo, sendo circulada a mesma esfera de 19 estrelas de prata em uma orla azul; e firmada a coroa real diamantina sobre o escudo, cujos lados serão abraçados por dois ramos de plantas de café e tabaco como emblemas de sua riqueza comercial, representados na sua própria cor, e ligados na parte inferior pelo laço da nação. (Decreto de 18 de setembro de 1822)

Havendo sido proclamada com a maior espontaneidade dos povos a Independência política do Brasil, e a sua elevação à categoria de Império pela minha solene aclamação, sagração e coroação, como seu Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo: hei por bem ordenar que a Coroa Real, que se acha sobreposta no escudo das armas estabelecido pelo meu imperial decreto de 18 de setembro do corrente ano, seja substituída pela Coroa Imperial, que lhe compete, a fim de corresponder ao grau sublime e glorioso em que se acha constituído este rico e vasto Continente. (Decreto de 1 de dezembro de 1822)

Em todas as representações, a descrição do escudo está respeitada, e a única delas em que parece haver diferença para as demais é a do centro, onde eu não consigo ver o laço nacional, de verde e amarelo.

sábado, 9 de julho de 2016

Breve pausa (já em curso)

A redação deste blog (que também é o meu quarto) vai no quarto dia de reforma, caros leitores.

Estes dias, estou acordando cedo, junto com o sol.
De vermelho, um sol em esplendor de ouro

E sigo sem sinal de internet, graças às tomadas desligadas. Com dados móveis, publicar  é mais complicado.

Acabo ficando mais tempo no Whatsapp 🛡,
Escudo entre os emojis do Whatsapp: partido encaixado de vermelho e prata.

assistindo séries norte-americanas...
Suposto escudo com as armas dos Estados Unidos. De prata, seis palas de vermelho, chefe de azul, pleno.
...ou japonesas.
Susposto escudo heráldico do Japão, De vermelho, o selo imperial do crisântemo de ouro.

O plano é retornar na semana que vem. E quem sabe com algumas coisas bem bacanas.
Minhas armas com dois arminhos como suportes. Bonitinhos!